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13/02/2008

Violência nas escolas


Aqui fica um artigo da escritora Alice Vieira que escreve no JN, quinzenalmente, aos domingos:

“Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas. E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas, afinal, não existe.
Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora.
Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver
em qualquer telejornal.
Mas bastaria a senhora ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam. É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o
mais que houver.
Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa.
Uma violência mais "normal".
E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados...) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ("bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si...", isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde...)
Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que "os professores não ensinam nada".
Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam...
Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como "obrigada", "desculpe", "se faz favor" são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade.
Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos "científicos", mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério.
E então em estilo filme americano.
Com tiros, naifadas e o mais que houver. “

Alice Vieira nasceu em 1943 em Lisboa. É licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1958 iniciou a sua colaboração no Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa e a partir de 1969 dedicou-se ao jornalismo profissional. Desde 1979 tem vindo a publicar regularmente livros tendo, actualmente editados na Caminho, cerca de três dezenas de títulos.
Recebeu em 1979, o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança com Rosa, Minha Irmã Rosa e, em 1983 com Este Rei que Eu Escolhi, o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil e em 1994 o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra. Recentemente foi indicada pela Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books for Young People) como candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen. Trata-se do mais importante prémio internacional no campo da literatura para crianças e jovens, atribuído a um autor vivo pelo conjunto da sua obra.
Alice Vieira é hoje uma das mais importantes escritoras portuguesas para jovens, tendo ganho grande projecção nacional e internacional. Várias das suas obras foram editadas no estrangeiro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Além de Alice Vieira ser uma excelente escritora, é uma cidadã actualizada e consciente.
Eu, mãe trabalhadora de dois filhos, concordo plenamente e já cheguei a fazer os mesmos comentários.
Nós pais que fizemos uma revolução em relação ao modo de vida dos n/ pais, colhemos como fruto falta de tempo para os n/ filhos e muitas vezes queremos que quem passa mais tempo com eles faça o que não conseguimos fazer.
Pior do que não ter consciencia deste facto é tomar constantemente o partido das n/ criancinhas e não lhes impor regras para serem verdadeiros cidadãos.
Cumprimentos,
Mãe Kati